Considerações sobre o conceito do blog

O objeto primeiro deste blogue é conceituar a natureza da crise econômica, política e social em curso, através da análise do conteúdo intrínseco da negatividade da forma valor, relação social abstrata que se estabelece e se reproduz através da mercadoria e do dinheiro (mercadoria especial e equivalente geral), suas expressões materializadas, bem como a necessidade inadiável de sua superação como instrumento de emancipação humana e contenção dos crimes ecológicos contra a humanidade e o planeta Terra.

Recomendamos a leitura do artigo "Nascimento, vida e morte da forma valor" como forma
de entendimento do conceito do blogue.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O efeito liquidificador

Já dizia um criativo escritor e dramaturgo brasileiro que “toda unanimidade é burra”. Nunca uma frase encerrou tanta verdade como agora, quando o mundo todo vive sob a égide de um modelo social decadente, que busca no desenvolvimento de sua própria lógica, causa da decadência, a solução para a própria decadência. Os políticos de direita, de centro (????) e de esquerda (????), disputam entre si, a glória de convencer o eleitorado de que suas propostas são as mais eficientes para o desenvolvimento econômico, como forma única de promoção do bem-estar social, e tudo isso dentro de um comportamento que se presume como ecologicamente sustentável. Ninguém ousa questionar o modelo, como servos inconscientes (ou conscientes) da negatividade capitalista, tudo dentro da obediência cega ao insano fetichismo da mercadoria. Segue essa procissão de alegorias do terror conduzida pelos políticos, prepostos do capitalismo, os sindicalistas, os partidos políticos, as instituições do Estado, as associações de classe, as associações de moradores de bairros, as instituições religiosas, os desportistas, as academias. Todos enfim...

O conceito do dinheiro


Vi e ouvi, há alguns segundos, através da TV, alguém, com ar de guru religioso, dizer que “o dinheiro não é um mal em si. O mal é o amor ao dinheiro. O dinheiro deve ser apenas um meio”. 

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A crise e o conceito da forma-valor

A forma-valor é uma abstração capaz de mensurar qualidades e quantidades de diferentes objetos na troca avaliada, transformando-os em mercadorias, e tendo como substância constitutiva e critério de avaliação (valoração) o quantum de trabalho abstrato aplicado na produção dessas mercadorias, e que se traduz como uma relação social baseada num princípio cumulativo de riqueza abstrata geradora de segregação social em face de sua necessária reprodução continuamente aumentada, ad infinitum, através da extração de mais-valia geradora do lucro.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A odisséia do dragão da maldade

Toda a atividade humana, hoje, tem que passar pelo “buraco estreito do fundo da agulha do mercando para se viabilizar” (Robert Kurz). Essa feliz metáfora exemplifica, de modo didático, que a vida humana, atualmente, depende da capacidade de reprodução do valor na vida mercantil. A dinâmica da lógica mercantil exige, necessariamente, um nível de produtividade somente acessível aos meios de produção que utilizem alta tecnologia e condições favoráveis de produção de mercadorias, onde o trabalho humano, a única fonte geradora de valor, é cada vez mais dispensável. Assim, reduz-se a massa global de mais-valia necessária ao alimento da vida mercantil, que ora definha, e ficam, por conseqüência, seriamente ameaçados, tanto a vida social como a própria vida humana sobre a face do Planeta Terra.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A ditadura da comunicação

Tão lamentável quanto o controle dos ditadores sobre os órgãos de imprensa, comum em regimes fechados, onde a “verdade” emana da “sábia” vontade governamental, é a forma parcial sob a qual atuam os órgãos de comunicação dos regimes liberais capitalistas.

terça-feira, 18 de maio de 2010

As chamas de Atenas

Há cerca de 2.700 anos, apesar das críticas de filósofos como Sócrates, surgia, na Grécia antiga, a primeira manifestação do dinheiro como expressão materializada da relação social abstrata da forma-valor, como modo de viabilização das trocas quantificadas e valoradas de objetos entre as muitas ilhas gregas. O dinheiro foi uma conseqüência inevitável do surgimento da forma valor, abstração que consegue gerar uma unidade numérica capaz de mensurar qualidades e quantidades de diferentes produtos na troca, tendo como critério de mensuração o tempo de trabalho abstrato aplicado na fabricação desses mesmos produtos, assim, transformados em mercadorias.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A mercadoria



Karl Marx, no Livro I de sua obra "O capital", foi quem primeiro desvendou a natureza constitutiva da mercadoria, fazendo-lhe a crítica como modo de relação social em contraposição aos conceitos incompletos e tendenciosos dos economistas clássicos, dentre eles Adam Smith e David Ricardo. Bebendo na sua valiosa fonte, aqui tecemos alguns comentários sobre a mercadoria, como tentativa simplificada, didática e atualizada na compreensão de sua negatividade social intrínseca, justamente no seu momento de sua agonia mundial, e como modo de confirmação do acerto das críticas mais que centenárias e profundas desse grande pensador da crítica da economia política, mesmo que se possa contestá-lo nos seus conceitos de condução política de oposição, fundada na pretensão de justa distribuição da riqueza abstrata por um Estado pretensamente proletário, e na pretensa força da união da classe trabalhadora, aspectos que se revelaram pífios, como modo de superação do capitalismo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Política e poder

Costuma-se considerar que todas as ações humanas em sociedade são atos políticos e, consequentemente, algo tão natural e indispensável como o ato de respirar. Dentro desse critério genérico a participação nos canais políticos institucionais e a insurgência contra a má qualidade desses canais, visando as suas melhorias, tornam-se, equivocadamente, como condições únicas e indispensáveis à vida social. Assim, o analfabeto político é considerado o maior dos ignorantes e uma espécie de pária social. Na verdade, não é bem assim que se devem considerar aqueles que têm repulsa ao exercício da política e ao seu significado.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os Bric’s

O capitalismo se caracteriza como uma relação social negativa, destrutiva e autodestrutiva, fundada na subtração segregacionista da riqueza abstrata produzida pelo trabalho abstrato e operada pela extração de mais valia nessa sua categoria primária. Vive, agora, a era da sua implosão interna irreversível causada pelo limite de sua capacidade de expansão e pela guerra na concorrência globalizada da produção de mercadorias, que ao mesmo tempo em que promove a dessubstancialização da forma-valor (queda do seu volume), provoca um deslocamento geográfico nunca antes havido na produção de riqueza abstrata, e que se evidencia como o mais novo fenômeno dessa relação social one world.

domingo, 2 de maio de 2010

A tragédia no Rio de Janeiro



Diante de mais uma tragédia que matou centenas de pessoas e desabrigou milhares de outras no Rio de Janeiro, além de danos materiais de grandes dimensões, mais uma vez se observa o desfile de teses sobre “de quem é a culpa?”. A grande mídia de comunicação que fatura alto com a comoção pública diante da tragédia se incumbe de expor o fato sob o ponto de vista de “identificar” os culpados, e faz uma analise superficial que acusa desde as próprias vítimas, pela “irresponsabilidade” de construir em áreas de risco, passando pela genérica e usual frase “falta de competência das autoridades públicas”, chegando a noticiar até (como afirmou o Prefeito de Niterói), a conclusão de que não há culpados, uma vez que se trata de um fenômeno natural contra o qual ninguém pode se opor de modo eficaz.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Os presos políticos cubanos

Quem tem medo da opinião? O poder. A política, sendo o construto de acesso jurídico-institucional do poder, teme a opinião de oposição, que é sempre intolerável, mesmo quando hipocritamente tolerada pelos mandatários em função de cânones estabelecidos. É, entretanto, muito mais abertamente intolerável quando, a estrutura de aceso ao poder, é verticalmente centrada num partido único e os mandatários se julgam os donos da verdade e da justiça. Em Cuba de Fidel sempre se praticou o capitalismo de Estado, que é a forma mais concentrada da dinâmica capitalista, com extração de mais-valia feita por empresas estatais, e justamente por isso fadada ao insucesso de longo prazo na concorrência de mercado onde está globalmente inserida e, concomitantemente a isso, Cuba convive com uma ditadura política em nome do proletariado e da igualdade, esta última nivelada por baixo.

domingo, 11 de abril de 2010

À esquerda, do quê?

O conceito de esquerda nasceu no parlamento francês, quando os oposicionistas ao sistema monárquico na Assembléia Nacional Constituinte de 1789, sentavam-se do lado esquerdo em relação à mesa diretora. A oposição, assim posicionada, tinha postura anticonservadora, dita progressista, que passou a configurar o amplo espectro de forças políticas denominadas de “esquerdas”. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Série 'Citações' (Parte III)


O orgulho, para um ator, pode ser um mecanismo espetacular do mesmo modo que o culto a Che Guevara, os integrismos e os nacionalismos, o esporte ou o terrorismo, os sindicatos e os partidos. Enquanto a religião era a proteção da potência humana no céu, onde levaria uma vida aparentemente independentemente, o espetáculo é a sua projeção sobre portadores terrestres igualmente afastados do poder dos homens que não são reconhecidos pelas próprias criaturas que o geraram. O espetáculo é, então, a forma mais elevada da alienação e, justamente, do fetichismo da mercadoria.”

Anselm Jappe, no Livro “Guy Debord”, Editora Vozes pág. 257, 1999, fazendo referência a passagem do livro  “A Sociedade do Espetáculo.”

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A China capitalista (Parte I)


Quem diria que 60 anos após a tomada do poder pelos comunistas chineses liderados por Mao Tse Tung, tornando-se o maior país comunista do mundo em população, como pretensa antítese do modelo capitalista, a China se tornaria o maior exportador de mercadorias do mundo, e se inseriria entre as maiores economias capitalistas do mundo? O modelo marxista-leninista chinês se transformou no seu aparente oposto, ou seja, num país capitalista que faz estragos no capitalismo ao adotar a lógica capitalista mais exacerbada, com mão-de-obra de baixo salário e uso de alta tecnologia. A China, do mesmo modo que todos os países que fizeram a “revolução comunista” e implantaram o modelo estatizante de propriedade dos meios de produção, não abandou a primeira condição capitalista, que é a produção de mercadoria, e tiveram que, posteriormente, franquear a sua produção privada.

A China capitalista (Parte II)

Alguns países do terceiro mundo estão vivendo num período de relativa expansão econômica, com a China e Índia à frente. Esses dois países, com quase 40% da população mundial, com cerca de 2,5 bilhões de habitantes e renda per capita baixa (na China, com US$ 2.400 anuais, cerca de R$ 356,00 mensais), oferecem mão-de-obra barata adicionada à alta tecnologia que lhes é introduzida pelos produtores de mercadorias privados e estatais que se instalam no seu interior. A economia globalizada, em face do regime de concorrência de mercado obriga os grandes produtores industriais ao abandono da produção no seu país de origem para produzir no terceiro mundo. Essa é uma conseqüência lógica e inevitável da concorrência de mercado, onde o baixo valor do trabalho abstrato aliado ao sofisticado uso da tecnologia, é fator decisivo na luta pela hegemonia de mercado.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Série 'Citações' (Parte II)

“Como as teorias estruturais e pós-estruturais, o pós-moderno compreende o caráter automático, auto-referencial e inconsciente da sociedade da mercadoria, mas somente para fazer dele um dado ontológico, ao invés de enxergar o aspecto historicamente determinado, escandaloso e superável da sociedade fetichista. Nos comentários sobre “A sociedade do espetáculo”, de 1988, Debord compara este tipo de crítica pseudo-radical ao fac-simile de uma arma na qual falta somente o gatilho.”

Anselm Jappe, em “As sutilezas Metafísicas da Mercadoria”.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A negatividade do trabalho abstrato, uma categoria capitalista


Se um ser humano megalomaníaco e desejoso por acumular dinheiro em proporções inimagináveis, obtivesse uma vara de condão capaz de produzir, incontinenti, mercadorias quaisquer para transformá-las em dinheiro e, assim, as produzisse, ele terminaria por ficar sem dinheiro algum, porque o valor, ou seja, a riqueza abstrata assim constituída, dessubstancializar-se-ia de tal modo, que todo o seu sonho de riqueza abstrata viraria abóbora. Por que isso aconteceria? A resposta a essa pergunta explica todo o momento de crise político/econômica e sócio/ecológica do mundo mercantil da atualidade. O sonho do nosso megalomaníaco seria desfeito justamente porque o trabalho abstrato, substância da forma valor, teria desaparecido do processo de produção, e assim, o próprio valor desapareceria no ar tal qual fumaça na amplidão do universo (efeito estufa a parte). A vara de condão da modernidade é o processo de produção tecnológico de ponta que dispensa o trabalho abstrato substancialmente. O capitalismo (forma-valor desenvolvida) nasce concomitantemente à disseminação do trabalho abstrato e se decompõe com o seu desuso.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Série 'Citações' (Parte I)

O blogue desvalor se destina a promover reflexão sobre pensamentos condensados que reflitam a ideia de uma nova relação social a partir de conceitos que excluem a possibilidade de competição autofágica implícita na vida mercantil. Para isso será criada um série de citações que se identificam com o conceito do blogue.

As citações elencadas foram extraídas de vários autores e coligidas de vários livros bem como dos muitos escritos sob a forma de livros, artigos, manifestos, coletâneas, panfletos e publicações diversas de vários autores e do Grupo Crítica Radical, de Fortaleza, Ceará.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O valor é acumulação subtrativa que não admite justa distribuição


O valor é um dragão insaciável em crescimento constante que precisa ser alimentado cada vez mais com mais alimentos, sacrificando os seus submissos, temerosos e desesperados súditos, que assim se privam dos próprios alimentos para mantê-lo vivo até o limite final de um ou dos outros. Estamos, agora, chegando ao limite máximo da capacidade de alimentação desse dragão, o que nos coloca diante do seguinte dilema: ou acabamos com ele ou ele acaba conosco.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Arte e mercadoria



Uma das características negativas da vida mercantil é o que podemos denominar como "efeito liquidificador", onde substâncias de diferenciadas quantidades e qualidades se constituem como uma massa uniforme genérica, a mercadoria, riqueza abstrata. Assim, todos os conteúdos mercantis servem antes à seiva da vida mercantil que é a reprodução aumentada do valor como modo de sua continuidade vital do que à satisfação das necessidades humanas.

Vencer!

Dentre os animais o ser humano é o mais dependente de seu semelhante. Nenhum outro ser animal necessita de tanto tempo sob os cuidados de outrem para viver quanto os seres humanos. Tal condição nos remete a uma necessidade de solidariedade gregária. Entretanto, vivemos sob uma forma de relação social fetichista onde os seres humanos se tornaram adversários uns dos outros, donde o seu estado patológico esquizóide atual.