Vi e ouvi, há alguns segundos, através da TV, alguém, com ar de guru religioso, dizer que “o dinheiro não é um mal em si. O mal é o amor ao dinheiro. O dinheiro deve ser apenas um meio”.
O dinheiro é a mercadoria das mercadorias, conhecida como equivalente geral capaz de promover a circulação das demais mercadorias, a única sem valor de uso e apenas com valor de troca, configurando-se, assim, como o meio e o fim em si da sua própria valorização. Nessa condição se transforma na evidência mais claramente compreensível da encarnação da forma valor, mesmo quando representado por uma mercadoria qualquer (uma moeda em ouro, por exemplo), que não vale pelo seu valor intrínseco de uso, mas pela convenção aceite por todos como encarnação da existência de valor nele contida. Trata-se, pois, de uma abstração materializada numa moeda, num papel impresso, ou num simples lançamento bancário, de uma determinada quantidade de valor. Destarte, sendo o valor personificado, o dinheiro é a própria essência da abstração que se apropria das coisas materiais para transformá-las em riquezas abstratas promotoras do apartheid financeiro e social mundo afora. Agora, quando a equação de reprodução do valor entra em declínio irreversível pela perda de substância de trabalho abstrato, tornado dispensável em maior proporção, a busca desesperada de todos pelo Deus-dinheiro se torna uma corrida fratricida em que todos perdem, sem que se tenha consciência da negatividade que está subjacente à relação social sob a forma-valor.
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