"Reivindicam-se políticas públicas, o que significa mais Estado, mais impostos, e mais atividade econômica impossível de ocorrer no atual estágio da vida mercantil; reivindica-se o fim da corrupção pelos políticos, sem entender que são os políticos que devem ser defenestrados; etc. E esse é o lado bom da maçã."
Chico Buarque, em documentário sobre Vinicius de Morais, cujo centenário de nascimento se dá em 2013, afirmou que o poeta diplomata não teria um bom lugar no mundo de hoje, com o atual estado de coisas, e justificou esse pensar dizendo que ele não se sentiria bem com a atual vitória da ostentação; do pragmatismo (que entendo como busca do poder e do “vencer” como fim justificando os meios); da falta de generosidade; da perda da pureza, etc. Concordo com Chico até quando ele diz que desapareceu a saudável irreverência “porra-louca”. A contracultura underground questionava valores conservadores de um modo até certo ponto ingênuo, mas bem intencionado que, infelizmente, deu lugar, hoje, à inconsciência agressiva e à violência destrutiva.
Há quem se rebele. Mas falta um suporte teórico mais profundo que poderia ensejar uma maior consistência aos bem intencionados, mas ingênuos movimentos mundiais contra a crise econômica do tipo Occupy Wall Street onde desempregados, ativistas e pessoas indignadas se aglomeram em protestos em praças e organismos representativos do sistema, e clamam justamente por aquilo que lhes infelicita: trabalho, trabalho, trabalho. Não se compreende que é justamente o trabalho abstrato, mecanismo primário de produção do valor, modo de relação social exaurido, que deve ser superado de modo transcendental para que se estabeleça um novo modelo. Reivindicam-se políticas públicas, o que significa mais Estado, mais impostos, e mais atividade econômica impossível de ocorrer no atual estágio da vida mercantil; reivindica-se o fim da corrupção pelos políticos, sem entender que são os políticos que devem ser defenestrados; etc. E esse é o lado bom da maçã.
Há o lado que estabeleceu a vitória do ruim (sem desconfiar que o gigante, tem os pés de barro), e que pugna por maior desenvolvimento econômico; exemplifica como dado positivo a economia chinesa com seus novos e abundantes bilionários (sem entender o significado global numérico disso); se delicia e interage com a programação desqualificada da indústria do entretenimento; coloca a culpa da miséria social e aumento da fome no mundo nas vítimas, a quem atribui ignorância e preguiça; justifica o aumento da violência como falta de policiamento; entende a agressão ecológica e o aquecimento global como invenção de ecoxiitas; e por aí vai...
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