Li, recentemente, um texto “de esquerda”, conforme ali
frisado, sobre uma possível orquestração golpista de direita por trás das
manifestações, que estaria incentivando a prática de determinados atos. Não concordo
com tal raciocínio. É evidente que há equívocos nesse movimento, e eles se
devem ao incipiente nível de consciência dos manifestantes, jovens na sua
grande maioria, que desconhecem a natureza e a essência da crise de que são
vítimas. Tal fato não deslustra a grandeza do significado das manifestações,
que se trata de uma explosão de insatisfação popular contra tudo e contra todos.
A inconsciência se revela quando se pede paz, mas não se contraria e nem se
sabe o que está na base da violência; pedem-se melhores salários, ou seja, mais
dinheiro, sem se saber que é justamente o dinheiro que nos infelicita; pede-se
o combate à corrupção e mais eficiência do Estado, sem que se saiba que o
Estado é o instrumento opressor de regulação do sistema produtor de
mercadorias, agora incapaz de produzir valor e impostos para o atendimento de
demandas sociais básicas.
Na crítica
às manifestações se evidencia um pavor da esquerda tradicional pelo fato dela
estar encastelada nos seus partidos e nas instâncias do poder e de ser atropelada
pela insatisfação popular nas ruas. Tal "esquerda" se apresenta como
contrária ao sistema, mas não quer aprofundar a discussão sobre as alternativas
de base, que necessariamente criariam um novo nível de consciência e um conceito
de relação social de extinção da estrutura de poder "democrático"
atual. Eles querem o poder socialista sob a forma-valor, onde se extrai
mais-valia e se explora o trabalhador do mesmo jeito que no capitalismo
liberal burguês. Direita e esquerda não diferem em nada na condução do poder, uma
vez que os fundamentos que lhes dão sustentação financeira são os mesmos.
As
manifestações, mesmo que se considere uma inconsciência sobre a necessidade
de transcendência do capitalismo, intui, corretamente, sobre a deficiência das
instituições do sistema capitalista republicano "democrático” e rejeitam
políticos, partidos, sindicatos, e por aí vai... Isso incomoda a política
tradicional de direita e de esquerda, que são idênticas no que se refere à
mediação social via sistema produtor de mercadorias. O povo começa a discernir
sobre essa falsa dicotomia.
Um comentário:
É verdade, no entanto o grande passo seria uma mudança cultural que os brasileiros tem de querer tirar vantagem em tudo, isso gera corrupção generalizada em todas as escalas da sociedade. Daniel Melo
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