Há palavras que se
transformam semanticamente ao longo do tempo e passam a ter um significado mais
genérico, conceitual, como se fora verdade imutável ou preceito virtuoso que
todos devem preservar. Isso acontece com os conceitos das palavras “república”
e “democracia”. Costuma-se, atualmente, referir-se a “republicano” como se fora
um comportamento institucional indiscutivelmente apropriado para a vida social;
e à “democracia” como sendo um ideal de comportamento em defesa do povo, e mais
que isso, nascido do próprio povo. Na verdade, tanto os conceitos de
“democracia” como de “república” nasceram em momentos históricos distintos, e
dentro de determinados paradigmas sociais que os formataram e os positivaram.
Ser republicano e democrata passou a significar inquestionável (mas enganoso)
exemplo de correção; isenção; legitimidade e obediência representativa do
interesse do povo.
A democracia, cujo conceito etimológico significa governo do povo, nasceu na região da Grécia juntamente com o desenvolvimento das relações sociais mercantis, quando, por volta de 700 a.C., houve a intensificação das trocas quantificadas entre mercadores das ilhas gregas, que passaram a utilizar uma representação simbólica do valor a partir da utilização da mercadoria dinheiro. Nascia aí, a forma-mercadoria, com seu modo de produção próprio, para troca, e junto com essa nova forma de relação social se tornou necessário um conceito político capaz de lhe dar suporte. Atenas passou a ser cidade e Estado, onde o povo se reunia para legitimar os sub-reptícios interesses mercantis da nova ordem, sem se aperceber da negatividade intrínseca da forma-valor.
Somente a partir de 1789, com a Revolução Francesa, e
obedecendo ao aperfeiçoamento político do desenvolvimento da relação social sob
a forma valor no seu estágio capitalista, foi criado o atual conceito
iluminista, republicano, e democrático de poder. Assim, tanto o conceito
capitalista de “democracia”, como de “república”, antes de representarem um
ideal de modo de ser social, necessita serem repensados a partir do colapso
interno do capitalismo, e devem dar lugar a novas formas sociais de organização
popular de base. Não há soberania da vontade do povo sob a negatividade da
forma valor, posto que, a cada modo de produção social corresponde uma forma de
organização social específica.
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