Considerações sobre o conceito do blog

O objeto primeiro deste blogue é conceituar a natureza da crise econômica, política e social em curso, através da análise do conteúdo intrínseco da negatividade da forma valor, relação social abstrata que se estabelece e se reproduz através da mercadoria e do dinheiro (mercadoria especial e equivalente geral), suas expressões materializadas, bem como a necessidade inadiável de sua superação como instrumento de emancipação humana e contenção dos crimes ecológicos contra a humanidade e o planeta Terra.

Recomendamos a leitura do artigo "Nascimento, vida e morte da forma valor" como forma
de entendimento do conceito do blogue.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Do povo, pelo povo e para o povo?

A reprodução cumulativa do valor, que se opera através das mercadorias trabalho abstrato, objetos consumíveis, serviços e dinheiro, obedece a uma fórmula matemática que por sua vez se traduz em dinheiro que se transforma em mercadoria para voltar a ser dinheiro aumentado numa seqüência sucessiva que se pretende interminável. No meio dessa seqüência é que se opera a apropriação indébita de parte do valor produzido pelo trabalho abstrato pelo empreendedor e detentor do capital (privado ou estatal, tanto faz), único fenômeno que proporciona a acumulação do valor. Acaso esse processo se interrompesse definitivamente o valor perderia a sua substância e deixaria de ser valor, ou seja, deixaria de ser riqueza abstrata e isso provocaria uma profunda transformação no modo de ser da produção dos meios de subsistência da vida social; quando esse ciclo ele se interrompe em determinados mercados e localidades, resta decretada a estagnação da vida social dessa localidade. Sob a lógica do dinheiro não há vida sem dinheiro.




Essa é a essência desse modo de ser social que nos últimos cinco séculos vem se implantando como hegemônico através da força das armas – o capitalismo. Trata-se da moderna forma de segregação social em substituição à antiga segregação social escravista direta, pré-capitalista.

O “moderno” Estado nacional-militar se formatou como necessidade de dar sustentação institucional-militar a esse modo de ser social, sendo essa a sua função primordial.  Entretanto, para não parecer apenas despótico, como de fato o é, “doura a pílula” com funções de assistência social como educação, saúde, etc., (que cada vez mais se transformam em mercadorias) e serviços públicos de normatização da vida social.

Assim, qualquer gerenciamento governamental tem como função primordial dar sustentação e dinamizar o desenvolvimento econômico, ou seja, preservar um modo de ser social excludente e segregacionista por natureza. Os governos que tentam modificar as funções do Estado ora referidas, tentando colocá-lo a serviço dos excluídos e provocando uma transformação de suas funções primordiais, evidentemente que entra em choque com poder econômico, do qual o próprio Estado é dependente (porque é das atividades econômicas que provêm os impostos). Tais governos, inclinados a esse último propósito, se tornam alvo de um inconciliável problema de dupla personalidade: (i) por um lado têm que promover o desenvolvimento econômico que vitima a maioria da população mundial e, (ii) por outro lado pretendem que o próprio Estado, indutor e sustentador da exploração, defenda as vítimas desse modo de ser social fundado na economia e na necessidade de seu desenvolvimento ad infinitum. Quando ocorre essa contradição entre a natureza funcional do Estado e a ação governamental contra essa mesma natureza o resultado dessa postura, quando não resvala para uma conciliação que negue tal inclinação (posturas mais comuns), sempre ocorre ou uma derrota política governamental pelo voto, graças ao desgaste decorrente da inconciliável convivência entre as duas funções, ou a deposição do governo pelas armas, tão comuns nas recentes histórias republicanas.
     
A ilusão de que é possível se transformar o Estado num instrumento de combate à desigualdade social intrínseca à natureza segregacionista da relação social sob a forma valor, cujo ápice (e ocaso inevitável, também) é o capitalismo, tem sido ao longo da história recente o grande equívoco de bem intencionados governantes socialistas, muitos deles pagando com a própria vida por suas boas e equivocadas intenções (caso de Salvador Allende, no Chile). Até mesmo governos revolucionários, que estatizaram os meios de produção (caso da Rússia, China, etc.), ao conservarem a forma de relação social sob a forma valor acima referida, fundada nas categorias capitalistas trabalho abstrato, mercadorias e dinheiro, terminaram por sucumbir à natureza da própria lógica e dinâmica dessa forma de relação social, terminando por aderirem à economia de mercado, independentemente do regime político governamental adotado.
    
Não pode haver, portanto, sob o capitalismo, um governo do povo; pelo povo; e para o povo, como querem admitir falaciosamente os políticos de todos os matizes ideológicos. Por isso é que é necessário se negar o voto; por isso é que é necessário se abolir as categorias capitalistas trabalho abstrato, mercadorias e dinheiro, e todos os seus construtos institucionais (Estado, política, democracia, socialismo etc.), e notadamente o seu aparato militar, como forma de se promover a paz mundial; o bem estar mundial hoje tão abalado; e a superação da agressão ecológica. Há que se fundar um novo conceito de relação social pelo nosso bem e sobrevivência, de modo a que os pósteros não nos considerem tão bárbaros assim.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário