Considerações sobre o conceito do blog

O objeto primeiro deste blogue é conceituar a natureza da crise econômica, política e social em curso, através da análise do conteúdo intrínseco da negatividade da forma valor, relação social abstrata que se estabelece e se reproduz através da mercadoria e do dinheiro (mercadoria especial e equivalente geral), suas expressões materializadas, bem como a necessidade inadiável de sua superação como instrumento de emancipação humana e contenção dos crimes ecológicos contra a humanidade e o planeta Terra.

Recomendamos a leitura do artigo "Nascimento, vida e morte da forma valor" como forma
de entendimento do conceito do blogue.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os Bric’s

O capitalismo se caracteriza como uma relação social negativa, destrutiva e autodestrutiva, fundada na subtração segregacionista da riqueza abstrata produzida pelo trabalho abstrato e operada pela extração de mais valia nessa sua categoria primária. Vive, agora, a era da sua implosão interna irreversível causada pelo limite de sua capacidade de expansão e pela guerra na concorrência globalizada da produção de mercadorias, que ao mesmo tempo em que promove a dessubstancialização da forma-valor (queda do seu volume), provoca um deslocamento geográfico nunca antes havido na produção de riqueza abstrata, e que se evidencia como o mais novo fenômeno dessa relação social one world.


Enquanto a capacidade de produção e os saberes industriais se situaram de forma concentrada nos chamados países ricos, a segregacionista lógica de reprodução do valor promoveu um relativo bem-estar social aos povos desses países, embora ciclicamente atingidos pelas depressões e guerras regionais e mundiais. No momento em que se acirrou a guerra da concorrência mundial de mercado e se difundiu o antes fechado domínio do saber industrial na produção de mercadorias, principalmente a partir da introdução da microeletrônica e da cibernética, que tornou a grande massa de trabalho vivo dispensável, houve o referido deslocamento da produção industrial em busca de resíduos baratos de mão-de-obra, como forma de sobrevida do capital industrial, reduzindo a massa global de mais-valia de modo insuportável para a vida mercantil e institucional. O Brasil, a Rússia, a Índia e a China, os BRIC’S, que hoje formam um bloco econômico mundial, “beneficiam-se” circunstancialmente desse fenômeno que dessubstancializa o valor, mas que denuncia, numa analise de longo prazo, o fim dessa relação social pelos seus próprios fundamentos, negativos na suas essências.

A população dos quatro países que compõem os chamados BRIC’s, corresponde, hoje a aproximadamente 2,8 bilhões de habitantes e o PIB somado desses países totalizou cerca de US$ 8,8 trilhões no ano de 2008. Tais dados demonstram a importância populacional e econômica dos BRIC’s e o fato de que nos últimos anos vem ocorrendo uma mudança de mãos das regiões produtoras de mercadorias, fenômeno que decorre da busca desesperada da reprodução “saudável” dos cada vez mais volumosos capitais ociosos. O valor (dinheiro e mercadoria) só pode se manter vivo e acreditado se ocorrer o seu vital aumento contínuo, e esse deslocamento da produção se dá em razão da conjunção de uso da alta tecnologia (microeletrônica, cibernética, sms, etc.,) adicionada à mão-de-obra barata (considere-se a baixa renda per capita dos BRIC’s, em torno médio de US$ 3.150 anuais), como condição capaz de promover a sua reprodução na vitória da concorrência de mercado.

A contradição inconciliável desse fenômeno se dá no fato de que ao mesmo tempo em que se processa uma sobrevida desses capitais, ocorre a dessubstancialização do valor, que corresponde à queda dos custos de produção com reflexos na redução dos valores (e preços) das mercadorias. Tais fenômenos provocam uma queda substancial da massa global de valor “válido” reproduzido, graças à queda da massa global de mais-valia extraída, com redução mundial do PIB nos setores primário e secundário (únicos capazes da produção de valor novo) a números insuportáveis para a irrigação da economia e para as relações sociais e institucionais. A idéia dos BRIC’s em negociar entre si com suas próprias moedas, abandonando a convenção internacional do US$, corresponde a uma explícita confissão da falência da moeda americana, que hoje abarrota de modo insubsistente e preocupante as reservas cambiais dos países exportadores de mão única (China à frente), que mesmo sendo beneficiários circunstanciais da globalização da produção mercantil serão também atingidos, no médio ou longo prazo, pelo colapso da lógica mercantil que ora os beneficia. A única solução para o capitalismo é a sua própria superação.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante a análise, porém a grande indagação a que podemos refletir é onde irá a grande massa trabalhadora ociosa oriunda da evolução da cibernética ou nanotecnologia, visto que algumas máquinas substituem centenas ou até mulhares de trabalho manual???Como podemos incorporar estes trabalhadores no novo sistema de produção e consumo.

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