Considerações sobre o conceito do blog

O objeto primeiro deste blogue é conceituar a natureza da crise econômica, política e social em curso, através da análise do conteúdo intrínseco da negatividade da forma valor, relação social abstrata que se estabelece e se reproduz através da mercadoria e do dinheiro (mercadoria especial e equivalente geral), suas expressões materializadas, bem como a necessidade inadiável de sua superação como instrumento de emancipação humana e contenção dos crimes ecológicos contra a humanidade e o planeta Terra.

Recomendamos a leitura do artigo "Nascimento, vida e morte da forma valor" como forma
de entendimento do conceito do blogue.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Política e poder

Costuma-se considerar que todas as ações humanas em sociedade são atos políticos e, consequentemente, algo tão natural e indispensável como o ato de respirar. Dentro desse critério genérico a participação nos canais políticos institucionais e a insurgência contra a má qualidade desses canais, visando as suas melhorias, tornam-se, equivocadamente, como condições únicas e indispensáveis à vida social. Assim, o analfabeto político é considerado o maior dos ignorantes e uma espécie de pária social. Na verdade, não é bem assim que se devem considerar aqueles que têm repulsa ao exercício da política e ao seu significado.


As palavras, ao longo da vida em sociedade, muitas vezes tomam contornos diferenciados do seu significado original, e costumam assumir significados genéricos de duvidosa validade. Tal ocorre com o significado da palavra política, que deixou de ser uma expressão específica quando nascida na Grécia antiga (onde surgiu pela primeira vez o dinheiro, em 700 a.C.), cujo significado original se reportava a uma forma específica de poder governamental, as polis, ou cidades-estado como Atenas, para significar um comportamento social genérico natural e indispensável. A gravidade dessa simbiose semântica entre aquilo que é específico e o que é genérico e ontológico, ou seja, que serve como regra de comportamento indispensável, reside no fato de não se poder contestar a existência do próprio poder institucional e de seu canal de acesso, a política. Assim, o poder institucional e a participação política, como canal de condução a esse poder ou instrumento de sua qualificação se tornou regra ontológica de comportamento social, à qual todos os indivíduos sociais devem participação, sob pena de se ser considerado como irresponsável social ou ignorante que se deixa manipular negativamente por quem atua politicamente.

O verdadeiro poder, nas sociedades mercantis, reside na relação social fetichista da lógica de reprodução da forma valor, que apesar de abstrata, materializa-se de forma impositiva através das mercadorias e do dinheiro. Melhor dizendo, trata-se de uma lógica que determinada o comportamento social que submete todos, capitalistas e trabalhadores, embora os primeiros se beneficiem circunstancialmente da apropriação do capital. Dizemos circunstancialmente em razão do fato de que a detenção do capital se torna inconstante no longo prazo em face da necessidade de sua contínua expansão sob pena de perecimento, necessidade que nem sempre encontra espaços mercantis para se processar.

Entretanto, como derivação do poder mercantil, existe o poder institucional, que é a esfera política de regulamentação das relações mercantis. Nas sociedades mercantis, a política, como canal de legitimação e acesso ao poder institucional, funciona como apoio indireto, mas indissociável da negativa lógica de reprodução do dinheiro e, consequentemente, é, também, algo negativo na sua essência constitutiva. Trata-se da inseparável trindade expressa no poder mercantil, no poder institucional e na política. Aqui, detemo-nos na breve análise da essência da categoria capitalista denominada política e do seu liame de dependência do poder institucional, que por sua vez é dependente do poder econômico ou mercantil. A política e seus construtos jurídico-institucionais, tais como partidos, legislação eleitoral, Justiça eleitoral, etc., não passam de modos de ser de algo previamente negativo, porque estão sempre a serviço de uma lógica negativa na sua constituição original. Assim, não se pode falar em soberania política, embora esta tenha força capaz de induzir a humanidade às catástrofes sociais como às guerras, aos confinamentos de dissidentes, às segregações étnicas, à concentração abusiva de riquezas, à corrupção, entre outras mazelas tão comuns nas sociedades mercantis antigas e “modernas”, e muito menos, pode-se falar em benefícios originários do pensamento político.

Na verdade, o poder institucional mercantil, que se resume num ato de gerência governamental delegada “espontânea” (caso das democracias), ou coercitiva (caso das ditaduras), é sempre uma incumbência nociva aos interesses socais, por mais bem intencionado que ele seja, e justo por se tratar de uma representativa e vertical concentração de mando da lógica de controle e regulamentação dos cânones sociais mercantis, tais como o direito de propriedade e a reprodução da riqueza abstrata. O poder institucional é sempre a síntese do despotismo em qualquer situação, seja nos regimes escravocratas diretos, onde a riqueza se expressa na apropriação de objetos concretos, como nas civilizações antigas, pré-forma valor, ou seja, nas sociedades mercantis, regidas pela relação social da forma-valor (dinheiro e mercadorias), independentemente de suas naturezas jurídicas, sejam elas militares, teocráticas, monárquicas, republicanas, socialistas, comunistas, etc. A política nada mais é do que a institucionalização e ontologização dos canais de acesso e de legitimação do poder institucional, sendo, portanto, parte indissociável da sua negatividade intrínseca, devendo, portanto, ser negada como método de condução da vida social na sua origem.

Não é de se admirar, portanto, que na decadente ordem institucional vigente, regida pela relação social forma-valor, mundialmente estabelecida, e que ora entra em processo de colapso interno de sua forma abstrata, o segmento político seja aquele que é mais desacreditado socialmente, tanto na questão da sua capacidade de solução dos problemas sociais ou, ainda, na questão do conceito da sua honorabilidade. Entretanto, apesar de todas as evidências de falência social one world, ninguém ousa criticar o poder e aquilo que lhe dá vida orgânica, ou seja, a institucionalidade; ninguém ousa criticar aquilo que lhe dá sustentação material, ou seja, a abstrata forma-valor (dinheiro e mercadorias); e ninguém ousa criticar aquilo que lhe dá legitimidade jurídica, ou seja, a política.

Como dissemos, na antiguidade o poder institucional representou a detenção expressa da riqueza material concreta pela força manu militari escravista, antes do surgimento da forma-valor, vigendo até períodos mais recentes, no estágio inicial pré-capitalista, para, hodiernamente, representar mundialmente o controle da regulamentação da produção e detenção privada ou estatal da riqueza abstrata das sociedades mercantis, regidas sob a égide da forma-valor. Assim, hoje, o poder institucional é a regulamentação jurídica e institucional do mal expresso no verdadeiro e decrépito poder, representado pelo decadente e fetichista poder original da forma-valor, e a política é o seu mero instrumento de legitimação, que sob nenhuma forma pode ser benéfico para a humanidade. Justamente por isso, tanto o poder econômico, como o poder institucional e política devem ser negados e combatidos nas suas essências constitutivas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de enfatizar a necessidade de levantarmos soluções para rompermos com esta lógica nefasta da forma valor negativista. Os problemas realmente representam este significado, porém as soluções passam por muitos, tendo um sentido coletivo. Os textos requerem um conteúdo mais pedagógico com melhor percepção da realidade e sua solução na perspectiva de soluções práticas...

Anônimo disse...

Os problemas relacionados com estes resultados causados pela nefasta relação forma valor realmente indicam a necessidade de uma nova ordem humana em que a emancipação se faz urgente, porém é necessária uma melhor apresentação no sentido pedagógico com uma abordagem dentro da perspectiva da percepção da realidade para uma posterior superação desse modelo perverso de relações sociais, pois, isto será fruto de uma ação coletiva...

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