Considerações sobre o conceito do blog

O objeto primeiro deste blogue é conceituar a natureza da crise econômica, política e social em curso, através da análise do conteúdo intrínseco da negatividade da forma valor, relação social abstrata que se estabelece e se reproduz através da mercadoria e do dinheiro (mercadoria especial e equivalente geral), suas expressões materializadas, bem como a necessidade inadiável de sua superação como instrumento de emancipação humana e contenção dos crimes ecológicos contra a humanidade e o planeta Terra.

Recomendamos a leitura do artigo "Nascimento, vida e morte da forma valor" como forma
de entendimento do conceito do blogue.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O fetiche da taça

A homenagem prestada pelos jogadores da seleção de futebol alemã aos índios pataxós logo após a conquista do campeonato mundial de futebol de 2104 tem um relevante grau de simbolismo. A cena dos jogadores dançando num rito tribal em torno da taça colocada no centro de uma roda representa a adoração ao objeto da conquista desportiva – a taça do mundo. O simbolismo do brilho do ouro contido no troféu se mistura ao culto do significado subjetivo da conquista, tanto do ponto de vista da capacidade desportiva alemã, como também, e principalmente, com os resultados políticos e financeiros que advêm de uma conquista como essa. Pode-se fazer uma analogia daquela cena em torno do troféu com o culto fetichista que se faz normalmente ao móvel da sociedade “moderna” – a produção de mercadorias. Os valores econômico-financeiros que envolvem o futebol, atividade esportiva mais popular do mundo, ascendem a bilhões de reais em ganhos diretos e em merchandising, e certamente isso tem um significado expressivo numa sociedade que necessita cada vez mais de criar artifícios que impulsionem o decadente mundo mercantil.

A adoração ao totem da modernidade – o dinheiro – objeto teleológico da vida social, mas vazio de sentido virtuoso, se consubstancia num fetichismo pelo qual todos nós sofremos as conseqüências, mas do qual não conseguimos nos desapegar por dependência ao seu comando opressivo. A nossa relação com uma forma de relação social que nos oprime guarda simbólica similaridade com o sofrimento de quase todos pela perda da conquista da taça e com o júbilo respeitoso para com o troféu pelos que o conquistaram e que assim se transformaram em heróis adorados que venderão de tudo pela grande mídia da publicidade movimentando bilhões em dinheiro. A mercadoria futebol é, hoje, a atividade desportiva mais cultuada no mundo pela grande mídia, e tem grande importância na economia e na política, daí a presença de chefes de estado nas arenas romanas do panem et circenses da modernidade. 

O rito de adoração alemã à conquista da taça num gesto de boa-vontade para com os índios pataxós simboliza, por analogia, o retorno do fetichismo das sociedades primitivas na moderna sociedade produtora de mercadorias, que agora se caracteriza por um acentuado caráter sacrificial de seres humanos comparativamente aos sacrifícios havidos naquelas.

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