Considerações sobre o conceito do blog

O objeto primeiro deste blogue é conceituar a natureza da crise econômica, política e social em curso, através da análise do conteúdo intrínseco da negatividade da forma valor, relação social abstrata que se estabelece e se reproduz através da mercadoria e do dinheiro (mercadoria especial e equivalente geral), suas expressões materializadas, bem como a necessidade inadiável de sua superação como instrumento de emancipação humana e contenção dos crimes ecológicos contra a humanidade e o planeta Terra.

Recomendamos a leitura do artigo "Nascimento, vida e morte da forma valor" como forma
de entendimento do conceito do blogue.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O legal, o justo e o arbitrário

Os conceitos sobre o legal e o justo costumam ser considerados pelo poder, erroneamente e infelizmente, como se fossem simétricos, ou seja, o que é legal é sempre tido como justo aos olhos da institucionalidade. Por seu turno a arbitrariedade é o que está juridicamente fora do legal, embora para muitos que raciocinam em termos de interesse pessoal ou ideológico de poder possa ser tida como critério de anteparo contra presumíveis ou hipotéticas injustiças. A maldosa e premeditada confusão histórica sobre tais conceitos e a sua aplicação prática tem causado opressão, desigualdades sociais, guerras e tantos outros infortúnios no miserável itinerário histórico da humanidade. Daí há uma necessidade de se conhecer a essência filosófica e não apenas popularmente semântica de cada um desses conceitos como forma de nos posicionarmos criticamente e podermos contribuir para uma sociedade emancipada.


Há quem diga que o cumprimento da lei, por pior que ela seja, é melhor do que a anomia social fruto do seu desrespeito. Para esses, o que é legal é hipoteticamente justo, e todos os déspotas de todos os tempos sempre pugnaram para cumprimento da lei feita por eles mesmos e dentro de seus critérios de interesses. Só para citar um exemplo histórico, houve um tempo não muito distante dos dias de hoje, em que se podia, legalmente, ser dono de um ser humano tido como escravo. Por esse exemplo se pode concluir facilmente que nem sempre o legal é o justo. Os nossos históricos cânones legais, assentados sobre uma forma de relação social injusta na sua essência, cuja base é a extração de mais valia na produção de mercadorias, são flagrantemente injustos. Entretanto, por força legal, os nossos tribunais e a força estatal militar do poder executivo cobram o cumprimento das leis legiferadas dentro desse critério como forma de manutenção da ordem social e da pretensa promoção da justiça.

Quando, entretanto, nem a lei injusta, nem as forças de coerção ao seu cumprimento conseguem fazer cumprir minimamente a lógica legal opressora estabelecida por força do anacronismo funcional, cria-se o espaço para o arbítrio, e se evidencia o verdadeiro caráter do seu ethos social. A mais destemida, perseverante, cognitiva, transparente e lúcida busca da realização do sentido de justiça social é o único meio de se suplantar o legal injusto e o arbitrário prepotente.

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