O valor é um dragão insaciável em crescimento constante que precisa ser alimentado cada vez mais com mais alimentos, sacrificando os seus submissos, temerosos e desesperados súditos, que assim se privam dos próprios alimentos para mantê-lo vivo até o limite final de um ou dos outros. Estamos, agora, chegando ao limite máximo da capacidade de alimentação desse dragão, o que nos coloca diante do seguinte dilema: ou acabamos com ele ou ele acaba conosco.
O Estado, ao apropriar-se dos meios de produção de mercadorias, torna-se, na verdade, o patrão-único, ou o empresário único, pronto para administrar a autofagia da reprodução do valor através das mercadorias que devem ser produzidas e compradas pelos trabalhadores, obedecendo ao mesmo princípio privado da dinâmica de acumulação subtrativa de reprodução do valor como forma de relação social. Destarte, o Estado não pode distribuir o valor acumulado, simplesmente porque não se pode distribuir o roubo do tempo de trabalho humano e continuar roubando, vez que o valor (o dragão), necessita cada vez mais de novo valor (agora capital) para a sua famigerada velocidade reprodutiva e para a pretendida hegemonia na corrida da concorrência de mercado global, o que implica na continuidade intensificada desse roubo e na inevitável e constante incapacidade para a distribuição da riqueza produzida.
A forma-valor é uma relação social abstrata que se materializa nas mercadorias obedecendo a um princípio matemático que precisa de uma dinâmica auto-reprodutiva cumulativa e subtrativa para sobreviver, o que se opera através da extração de mais-valia, pois sem ela, o valor desapareceria. Não há valor sem mais-valia. A extração de mais-valia somente pode se operar com a apropriação do tempo de trabalho abstrato daquele que produz riqueza abstrata, a mercadoria, seja pelo patrão privado ou pelo patrão Estado. Assim, as injustiças sociais somente terão fim quando, ao invés de vender a força de trabalho (tipo especial de mercadoria), como modo de se poder comprar e vender outras mercadorias houver um sentido de partilha mundial de bens produzidos e destinados à satisfação das necessidades humanas, de modo racional e ecologicamente correto.
Exemplificação prática de extração de mais-valia
- Um trabalhador ceramista produz durante uma semana de 46 horas de trabalho abstrato, entre extrair o barro, moldá-lo, cozinhá-lo e empilhá-lo para a venda, um total de 1.000 (um mil) tijolos. O valor do milheiro de tijolos para venda é de R$ 460,00 (quatrocentos e sessenta reais). Assim, para uma justa remuneração, cada hora trabalhada na semana (46 horas no total) corresponderia a um ganho de R$ 10,00 (dez reais) por hora, num total de R$ 460,00. Entretanto, tal jamais poderá ocorrer sob o ponto de vista empresarial, patronal, seja liberal burguês ou estatal, vez que se isso ocorresse não existiria o lucro, resultante da acumulação subtrativa.
- Um trabalhador ceramista produz durante uma semana de 46 horas de trabalho abstrato, entre extrair o barro, moldá-lo, cozinhá-lo e empilhá-lo para a venda, um total de 1.000 (um mil) tijolos. O valor do milheiro de tijolos para venda é de R$ 460,00 (quatrocentos e sessenta reais). Assim, para uma justa remuneração, cada hora trabalhada na semana (46 horas no total) corresponderia a um ganho de R$ 10,00 (dez reais) por hora, num total de R$ 460,00. Entretanto, tal jamais poderá ocorrer sob o ponto de vista empresarial, patronal, seja liberal burguês ou estatal, vez que se isso ocorresse não existiria o lucro, resultante da acumulação subtrativa.
Vejamos, pois, como se realiza a extração de mais-valia e o conseqüente e imprescindível lucro empresarial, no exemplo ora referido. Admitindo-se a hipótese (apenas para exemplificar) de nenhum custo adicional pago pelo empresário além do salário, fixado em R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) semanais, podemos concluir que o empresário remunerou apenas 15 horas das 46 horas trabalhadas. Assim, apropriou-se das 31 horas não remuneradas, extraiu mais-valia do trabalhador representada pelas 31 horas trabalhadas e não pagas, o que resultou num lucro semanal de R$ 310,00 (trezentos e dez reais) para o empresário privado ou estatal.
Por sua vez, grande parte do lucro obtido pelo empresário, precisa ser reinvestido em novas aquisições de horas de trabalho, continuamente, como modo de dar continuidade ao seu negócio, além dos gastos com a aquisição de máquinas e equipamentos para fazer face à disputa na concorrência de mercado. Essa disputa pelo mercado leva a uma eterna competição cujo limite final, após uma macro-trajetória global de exploração e empobrecimento da maioria dos trabalhadores, é socialmente desastroso, seja pela falência sistêmica da economia, das instituições jurídico-institucionais e da vida social, ou ainda pelos problemas ecológicos causados pela poluição e exploração predatória da natureza. A reprodução do valor em qualquer circunstância é fruto de um roubo consistente na subtração do tempo de trabalho na produção de mercadorias, vez que não há reprodução de valor sem mais-valia.
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