Considerações sobre o conceito do blog

O objeto primeiro deste blogue é conceituar a natureza da crise econômica, política e social em curso, através da análise do conteúdo intrínseco da negatividade da forma valor, relação social abstrata que se estabelece e se reproduz através da mercadoria e do dinheiro (mercadoria especial e equivalente geral), suas expressões materializadas, bem como a necessidade inadiável de sua superação como instrumento de emancipação humana e contenção dos crimes ecológicos contra a humanidade e o planeta Terra.

Recomendamos a leitura do artigo "Nascimento, vida e morte da forma valor" como forma
de entendimento do conceito do blogue.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Recrudescimento do Arcaico

Na antiguidade, e até em tempos não tão antigos assim se considerarmos os milhões de anos da evolução humana sobre a face da terra, o sacrifício de vidas animais como forma de purgação de uma culpa auto-atribuída era prática comum. Tais rituais macabros dentro das sociedades primitivas que desconheciam a troca quantificada (a forma-valor), ou mesmo nas sociedades que se iniciavam em relações de troca que se configurariam como pré-capitalistas, ocorriam de forma simbólica, e por motivações meramente exotéricas.

Na medida em que a forma-valor foi se expandindo e ganhando formas jurídico-institucionais ocorreu um processo inverso do que seria um ganho civilizatório; graças ao seu desenvolvimento se observou um genocida sacrifício de vidas humanas no altar da chamada “modernidade”. Como disse Robert Kurz na sua obra póstuma “Dinheiro sem valor”, “o capitalismo, não sendo uma religião, representa a dissolução de toda a religião num movimento de sacrifício humano autonomizado: o fetiche do capital”. Em que pese os ganhos do conhecimento e do saber, em nome do Deus-dinheiro se sacrificam vidas humanas numa volta recrudescida em quantidade e qualidade ao arcaico. Trata-se das modernas e bárbaras guerras frias ou quentes; belicosas ou em surdina; biológicas ou explosivas; radioativas ou famélicas; internacionais ou urbanas. O capital, na impossibilidade de se reproduzir com a utilização abrangente do trabalho abstrato tende a matar os que se tornam improdutivos de valor, considerados supérfluos.         

Tal absurdo resulta da irracionalidade da subordinação humana a um instrumento de relação social por ela criado e que representa a reificação da vida, e no qual coisas inanimadas (as mercadorias) ganham vida e determinam o negativo modo de ser social; e fato mais grave, tal forma de relação social ao atingir o estágio de inviabilidade de sua própria existência, ao invés de ser superada, exige que os seus súditos (os seres humanos) sejam sacrificados em nome da precária viabilização do seu fim-em-si vazio de sentido humano. No atual estágio do limite interno da capacidade de reprodução do valor, tal como no culto arcaico às divindades no qual se ofereciam animais em sacrifício para a obtenção da salvação material e espiritual, é o genocida sacrifício de vidas humanas o que está a ocorrer em nome da precária sobrevida sistêmica.

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